O renomado Instituto Recriar Vida tem uma história de 30 anos de militância na questão de prevenção ao uso de drogas e reinserção social. A empresa é fruto do trabalho pessoal de Ricardo Ribeirinha, um ex-interno que viveu por dois anos na Fazenda da Esperança em Guarantiguetá-SP, onde se recuperou. Após o processo de recuperação, ele passou a atuar como voluntário, consultor e empresário, levando mensagem de esperança e formação a milhares de jovens e profissionais que lidam com a prevenção e tratamento de substâncias psicoativas.
Para tanto, o instituto oferece assistência a pessoas que lutam contra o vício e suas famílias, bem como uma variedade de programas de prevenção, incluindo oficinas e seminários educacionais, eventos comunitários e programas de prevenção nas escolas.
Utilizando-se do método denominado instrumentalização por meio de estudo de caso real, a Recriar Vida vem promovendo a formação de equipes multidisciplinares de trabalho, especialmente da educação, assistência social e saúde, para compreender e lidar melhor com os riscos e prevenção do consumo de drogas lícitas e ilícitas, bem como os fatores de vulnerabilidade que estão associados ao uso ou risco de uso, como violência, pobreza, abuso, depressão, ansiedade, ideação suicida, automutilação, convívio, entre outros.
Para explicar sobre o trabalho inovador e eficaz do Instituto, a ImagineAcredite entrevistou Ricardo Ribeirinha que pontou sobre a importância de desenvolver estratégias saudáveis de enfrentamento às drogas, como a criação de alternativas de atuação dos profissionais que já se encontram diretamente envolvidos com todos esses problemas, seja na escola, no CRAS, na unidade de saúde e no dia a dia.
Imagine Acredite: Em breves palavras, como Ricardo Ribeirinha se descreve?
Ricardo Ribeirinha: Inicialmente agradeço o espaço dessa importante revista, que sempre tem aberto diálogos sobre temas relevantes, a exemplo da pauta sobre saúde mental em todo o Brasil. Eu sou fruto da perseverança, da vontade de viver. Por isso me considero um determinado. Fui uma criança abandonada, acolhida num lar adotivo, que enfrentou diversos problemas, o abandono, a criminalidade, as drogas, as ruas, todas as vulnerabilidades possíveis, até encontrar na Fazenda da Esperança a cura para o corpo e para alma. Graças a oportunidade dada por Deus e pelas mãos de pessoas que me olharam com humanidade, estou vivo, contando minha superação de vida há mais de 30 anos, percorrendo 22 países, 5 continentes, encontrando e contando minha história para dois pontífices (João Paulo II e Bento XVI), empreendendo como filantropo e empresário e acima de tudo, cuidando da minha própria família. Por tudo isso, sou um homem feliz, que ama o que faz que é ajudar a salvar vidas.
IA: Como e quando nasceu o Instituto Recriar Vidas? Foi a partir de alguma experiência?
RR: O Instituto nasceu com a intenção de compartilhar minha experiência pessoal, mas sob uma ótica mais profissional, buscando ajudar pessoas em diversos setores para ajudar outras pessoas, criando uma rede de proteção social efetiva. Tudo que aconteceu comigo – que nasci da vulnerabilidade da minha mãe biológica que sofria de problemas psicossociais. Herdei todos estes problemas e não consegui lidar com eles, tampouco ao longo de muitos anos encontrar pessoas que soubessem como lidar comigo. Foi observando o meu caso pessoal, e de como ainda hoje existem tantas pessoas e profissionais que não sabem lidar com seus próprios traumas e problemas, tampouco com aqueles que têm as crianças e adolescentes que eles cuidam, que nasceu o Instituto. Nosso foco é auxiliar profissionais de diversas áreas, especialmente os da educação a lidarem com os transtornos como ansiedade, depressão, ideação suicida, pobreza, violência de todas as formas, tanto quanto o autoconhecimento e autocuidado, quanto com seus alunos e famílias.
IA: Quais programas o Instituto desenvolve?
RR: Hoje temos projetos diversos. O mais robusto é o ESCUDOS, a Escola de Formação em Cuidados Sociais. É um programa de treinamento para profissionais, especialmente do setor público, que aborda temas delicados por meio de palestras, oficinas, seminários e diversas outras ações educacionais, ministrados por profissionais especializados de diversas áreas. Pra que o contexto seja mais bem compreendido, gostaria de explicar que atualmente temos crianças ansiosas, depressivas, com pensamentos suicidas em idades cada vez mais jovens. Temos crianças com sérios problemas relacionais, o que leva a intolerância, aumento da violência e do bullying entre os escolares. Vemos que o desenvolvimento socioemocional dessas crianças, que muitas vezes já era falho, foi altamente prejudicado, pois elas foram privadas das relações que antes também lhes serviam como reguladores emocionais. Assim, hoje encontramos um contexto escolar totalmente diferente do que estávamos acostumados. E digo mais, não somente nossas crianças foram lesadas no processo, mas nossos professores também, pois nunca imaginavam que teriam que se reinventar de tamanha forma para lidar com essa realidade. Ou seja, a relação professor-aluno também fica prejudicada/fragilizada. Esta é a nossa meta e esse é nosso público-alvo: atender quem mais precisa.
IA: Em quais estados e municípios do país está inserido o programa ESCUDOS? Tem previsão para que seja um programa Nacional?
RR: O ESCUDOS é um programa que nasceu no Estado do Tocantins e encontra-se em expansão para diversos outros estados, dentre eles Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Pará. O objetivo é na capacitação sobre os aspectos de vulnerabilidade social e os fatores biopsicossociais que afetam negativamente crianças, jovens e profissionais da rede pública de ensino, e a aquisição de conteúdos didáticos com foco na abordagem dos aspectos socioemocionais, estabelecidos na Base Nacional Comum Curricular – BNCC desde o ano de 2018, com foco na mitigação de risco social de estudantes da rede pública, crianças e jovens, inclusive quanto ao risco do consumo de substâncias psicoativas. O projeto promove a capacitação de agentes públicos das áreas de educação, assistência social, segurança pública e saúde, bem como de servidores que atuam nos organismos de controle social, conselheiros tutelares e sociedade civil organizada. É utilizada a metodologia de estudo de caso real, por meio da história, vivência e recuperação de Ricardo Ribeirinha. O programa é diversificado em suas ações, pois têm palestras, cursos, seminários e tem como finalidade a garantia da formação de uma rede de proteção social nas cidades, tanto dentro do projeto político pedagógico nas escolas bem como para projetos sociais desenvolvidos nas comunidades mais vulneráveis, inclusive com viés quanto à avaliação do risco e grau de consumo de substâncias psicoativas, bem como ações de redução dos fatores de vulnerabilidade social de crianças e adolescentes. Atualmente, o Projeto é reconhecido pela United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas no Brasil, pelo Ministério do Desenvolvimento Social do Governo Federal, e por diversas outras cidades e instituições que já receberam o Programa. Já atendemos mais de 20 mil pessoas com o Programa, formamos centenas de professores e atendemos mais de 200 cidades. Já consideramos um programa nacional, uma vez que estamos em várias cidades, estados e expandindo para mais regiões.
IA: O que a sociedade pode esperar de contribuição do Instituto nesse ano?
RR: Hoje temos um projeto inovador, reconhecido, certificado e antenado com o que há de mais moderno em termos de ensino aprendizado sobre o tema. Nossa preparação antes de pensar na ótica geográfica, foi garantir a qualidade do que fazemos, do que falamos, ensinamos e aplicamos. Nossa expansão a partir de agora passa pelo exercício de olhar quais regiões no país mais precisam dos nossos projetos. E, francamente, penso que onde nasci, na periferia de São Paulo, no Capão Redondo, existe uma gigantesca comunidade que precisa de nós e espera por ações concretas do poder público, privado e do terceiro setor. Por isso o Instituto a partir de 2023 passará a funcionar onde nasci, no meu bairro em São Paulo, para que possa garantir onde mais precisa, que crianças tenha a oportunidade que um dia tive. De viver, empreender, construir uma família e ser feliz. Essa é nossa principal proposta expansão para 2023.
IA: Quais são as expectativas de Ricardo Ribeirinha com o novo governo Lula?
RR: A expectativa é grande e sou otimista. Explico: fomos parceiros do Governo Federal em seus governos anteriores. Foi uma experiência exitosa, que inclusive nos rendeu o Prêmio de Valorização da Vida do Gabinete da Presidência da República. Eu recebi pessoalmente das mãos dele este Prêmio, reconhecendo o mérito público das nossas ações. Temos uma agenda de reconstrução e diálogo para o país, e penso que esse é o caminho para desenvolvermos novos projetos que venham a beneficiar as pessoas que mais precisam. Temos certeza absoluta de que manteremos nossas parcerias, fortalecendo nossas ações e ganhando cada vez mais espaço com qualidade e comprometimento. Como costumo dizer, percorrendo os rincões do Brasil.
IA: Qual é a mensagem que deixa para os leitores
RR: Todos os dias nos deparamos com a violência, muitas pessoas adoecidas pela depressão, pela ansiedade, pelo uso do álcool, desanimadas pelos problemas da vida, como a pobreza, a violência, entre tantos outros. Mas nada disso nos impede de buscar todos os dias a sobrevivência e a felicidade. Existem caminhos para o autocuidado, para o cuidado com nossas crianças e adolescentes no ambiente escolar, para lançar um olhar profissional sobre o que nossos profissionais da educação têm sofrido no dia a dia, para garantir que todos tenham saúde emocional, cuidado biopsicossocial e melhoria de vida. Minha mensagem hoje e sempre será de otimismo, baseados na fé e na luta diária para salvar vidas, algo que só depende de nós, do nosso esforço coletivo e do inesgotável otimismo, que só o brasileiro tem. Vamos vencer cada batalha, basta trabalharmos juntos colocando a vida do outro também como prioridade. É pra isso que trabalhamos e o que vamos continuar fazendo dia após dia.
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